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ECOSSISTEMAS DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO TABULEIRO

      O Estado de Santa Catarina está totalmente inserido no domínio do Bioma Mata Atlântica, incluindo distintas fitofisionomias florestais e ecossistemas associados. A Mata Atlântica destaca-se por sua ampla diversidade paisagística e biológica e é considerada um dos ‘hotspots’ mundiais para a conservação da biodiversidade (MYERS, 1988).

       O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (PAEST) com seus 84.130 hectares, abrange 9 municípios catarinenses: Florianópolis, Palhoça, Paulo Lopes, Águas Mornas, Santo Amaro da Imperatriz, São Bonifácio, São Martinho, Imaruí, Garopaba, representando 1% da área do Estado de Santa Catarina.  O Parque resguarda uma elevada diversidade de ecossistemas, contemplando, por exemplo, 5 das 6 fitofisionomias da Mata Atlântica encontradas em Santa Catarina, com notória exceção das Florestas Estacionais do oeste do Estado. A diversidade biológica do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro é proeminente, principalmente quando incluídas as espécies endêmicas e raras registradas nos estudos científicos sobre o Parque, como o Produto Básico de Zoneamento do PAEST.

      Esses fatos colocam o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro como uma das mais importantes Unidades de Conservação de Santa Catarina e do país. Sua importância não está somente em sua extensão, mas também por possuir em seus limites os representantes das principais regiões fitogeográficas do Estado, bem como conter uma alta diversidade faunística associada a esses ecossistemas (SOCIOAMBIENTAL, 2000). A representatividade das principais regiões fitogeográficas de Santa Catarina formaram algumas das justificativas essenciais para a criação do Parque, o Decreto de Criação do Parque (Decreto N/SETMA 01/11/1975 nº 1.260), que traz as seguintes considerações para justificar a criação do Parque e valorizar sua importância:

 

--     Considerando que em consequência da topografia da área que abrange uma vasta planície litorânea do quaternário recente e um expressivo conjunto montanhoso de até 1268 m de altura, conta­mos com a presença de (quase) todos os tipos de vegetação existentes no Estado de Santa Catarina, a saber: a Restinga Litorânea, a Mata Pluvial Atlântica, a Mata de Araucária, a Vegetação dos Campos e a Matinha Nebular;

--     Considerando que a presença desses cinco tipos de vegetação na área é característica única deste entre todos os parques brasileiros;

--     Considerando que nos levantamentos botânicos, realizados pelo Herbário “Barbosa Rodrigues” (1950-1964) e pela Universida­de Federal de Santa Catarina (1969-1974) foram encontradas, na área, diversas espécies novas para a ciência (Camponanesia littoralis Legrand, Ornithocephalus reitzii Pabst, Rudgea littoralis Smith & Downs, Leandra pilonensis Wurdak, Philodendron renauxii Reitz, Anthurium pilonense Reitz, Anemia alfredi-rohrii Brade e outras, já em vias de extinção (Laelia purpurata Lindley, Campomanesia littoralis Legrand); e

--     Considerando que na planície costeira dos Rios Massiambu e da Madre (Embaú) desenvolve-se a mais evoluída flora da restinga do sul do Brasil, ricamente representada na sucessão vegetal desta região fitogeográfica, desde a hidrossera (etapas submersa, flutuante, paludosa, tanto de água doce como salgada, brejosa e subseqüentes) até a xerossera (na etapa arenosa da ante-duna: halófitas e psamófitas, das dunas móveis, semi-fixas e fixas: xermófitas e mesófitas e, na rochosa, as etapas dos líquenes, musgos e xerófitas rupícolas).

       Por tudo isso, toda a área do Parque foi considerada como Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, área estabelecida pela Unesco que visa a proteção, valorização e desenvolvimento de projetos sustentáveis nos 17 Estados brasileiros de ocorrência da Mata Atlântica. Como podemos notar, a riqueza biológica do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro é incalculável.

      A seguir, apresentaremos um breve resumo sobre a divisão fitogeográfica existente no Parque, baseada nos conceitos propostos por VELOSO et al (1991), que levam em consideração as diferenças altitudinais, somente para termos uma ideia de toda a riqueza dessa Área Protegida:

A FLORESTA OMBRÓFILA DENSA (FOD):

     Na Floresta Ombrófila Densa ocorrem diferentes formações que correspondem a variações na estrutura das comunidades, e resultantes da interação entre fatores físicos, como diferentes feições geológicas, pedológicas e de altitude (IBGE, 1992). A despeito destas variações, alguns aspectos são comuns a todas as formações da Floresta Ombrófila Densa, sendo florestas sempre verdes (perenifólias), cujas espécies comumente apresentam folhas largas (latifoliadas) e se desenvolvem em ambientes muito úmidos (ombrófilas) (FERNANDES, 2003). A FOD, predominante na área do Parque, apresenta 4 sub-divisões:


o  FOD de Terras Baixas:  de 0 a 30 m de altitude, geralmente costeira, também chamadas de planícies;


o  FOD Submontana:  de 30 a 400 m de altitude, de solo mais seco, em régios abaixo de montanhas. Segundo o Diagnóstico dos Meios Físicos e Bióticos do PBZ do PAEST (SOCIOAMBIENTAL, 2000), esta tipologia é a que apresenta maior diversidade de espécies dentro do Parque;


o  FOD Montana: áreas montanhosas com 400 a 1000 m de altitude.


o  FOD Alto Montana: acima de 1000, também conhecida como mata nebular presente em grandes elevações.

A FLORESTA OMBRÓFILA MISTA (FOM):

Floresta Ombrófila Mista: Conhecida como Mata de Araucária esta floresta apresenta altos níveis de interações interespecíficas. No que tange à araucária (Araucaria angustifolia) algumas dessas interaçõe são bem perceptíveis, como a dispersão de sementes por roedores e psitacídeos.

O PAEST também contempla ecossistemas associados ao Bioma Mata Atlântica, como as formações pioneiras, campos de altitude e ilhas oceânicas:

FORMAÇÕES PIONEIRAS DE INFLUÊNCIA MARINHA – RESTINGA:

Entende-se por um conjunto das comunidades vegetais fisionomicamente distintas, sendo consideradas comunidades edáficas por dependerem mais da natureza do solo que do clima, formam três subdivisões: restinga herbácea, restinga arbustiva e restinga arbórea. A região litorânea do parque, com especial atenção a formação dos cordões arenosos presente na região da Baixada do Maciambu com configurações geológicas exclusivas é um belo exemplo dessa formação.

FORMAÇÃO PIONEIRA FLÚVIO-MARINHA – MANGUEZAIS:

Formação típica tropical, desenvolve-se ao longo da faixa litorânea na desembocadura de rios, nas orlas das baías, das grandes ilhas assoreadas. Ocupa terrenos lodosos com teor salino elevado e baixa oxigenação.

FORMAÇÕES PIONEIRAS FLÚVIO-LACUSTRE – BREJOS:

Estas formações comumente circunscrevem lagoas litorâneas, consistindo em uma fisionomia eminentemente aberta. No geral, apresentam uma fauna bastante distinta dos ecossistemas florestais podendo ser considerada como uma área de importância biológica alta para a fauna do Parque.

CAMPOS DE ALTITUDE:

Em geral em áreas acima de 1000m de altitude, com do solo bastante raso e pedregoso de modo que somente plantas de pequeno porte conseguem se desenvolver. São refúgios de uma vegetação pré-existente ou muito adaptada a grandes altitudes. A probabilidade das plantas dessa região trocarem fluxo gênico é baixa, o que caracteriza grande potencial de endemismo.

ILHAS OCEÂNICAS:

Pertencem ao Parque as ilhas da Fortaleza ou Araçatuba, Papagaio Grande, Papagaio Pequeno, do Coral, ilhote do Siriú, Moleques do Sul e as Três Irmãs (de dentro, de fora e do meio). Em geral estas ilhas variam de 10 a 100 m de altitude, formadas por paredões rochosos, cavernas e escarpas abruptas. Suas formações vegetais sofrem intensa ação dos ventos e salinidade

TEXTO REDIGIDO E ADAPTADO POR JULIANA ROEMERS MOACYR E EDUARDO SCHNITZLER MOURE

BIBLIOGRAFIA

BRASIL. 1975. Decreto Nº 1.260, de 1º de novembro de 1975. Cria o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Brasil, 1975.


FERNANDES, C. R. Floresta Atlântica: Reserva da Biosfera. 20 ed. Curitiba: Tempo Integral, 2003.


IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro, 92p. (Manuais Técnicos em Geociências, 1), 1992.


MYERS N. Threatened biotas: “Hot spots” in tropical forests. The Environmentalist 8: 1–20. 1988.


SOCIOAMBIENTAL. 2000. Produto Básico do Zoneamento do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro – Diagnóstico dos Meios Físico e Biótico. Florianópolis: FATMA, 2000.


VELOSO, H. P.; RANGEL FILHO, A. L. R.; LIMA, J. C. A. Classificação da vegetação brasileira adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro: IBGE, Departamento de Recursos Naturais e Estudos Ambientais, 1991. 124 p.

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